Disciplina - Ensino Religioso

Ensino Religioso

05/02/2009

Exu, um grande injustiçado

Robson Nogueira
O negro africano criou uma associação de suas Divindades com os Santos Católicos (sincretismo) para manter sua cultura religiosa face à imposição da religião cristã católica.
Ele colocava um Otá (pedra representativa de uma Divindade) sob a imagem de um Santo católico que tinha alguma semelhança em caráter ou história com suas Divindades e dessa forma enganavam aos seus algozes.
Não foi difícil associar S.Jorge, o valente guerreiro romano, à figura de Ogum, o grande Orixá das batalhas e vencedor de demandas. Oxalá, o mais proeminente Orixá africano, ao ícone mais reverenciado da cultura católica, Jesus Cristo. Oyá ou Iansã, a grande guerreira dominadora do fogo, dos raios e das tempestades, à figura valente de Santa Bárbara que, inclusive, tem o fogo da inquisição atrelada à sua história. E assim foi com todos os Orixás, mas restava Exu. As características de Exu, tão próximas do ser humano, assim como, as suas representatividades, como o falo sempre ereto - visto negativamente pelos religiosos cristãos -, levou-o a um sincretismo extremamente infeliz com o diabo cristão.
Exu, que na cultura africana era um Orixá, ainda que muito mais próximo ao ser humano, deixa de ser ícone positivo e passa a ser totalmente negativo.
A Umbanda é uma religião amalgamada de várias outras e que, indubitavelmente, tem nos cultos africanos um dos seus maiores influenciadores, no entanto, diferencia-se em cerne deles, pois, cultua, preferencialmente, espíritos desencarnados, diferentemente do Candomblé (reunião dos cultos originais africanos) que cultua principalmente às Divindades, ou seja, seres que não se consideram terem tido vidas humanas, apesar de tantas histórias contadas sobre eles.
Os espíritos da Umbanda são chamados de Guias ou Entidades e representam inicialmente o próprio personagem manifestado, mas, de forma geral, representam um personagem falangeário, ou seja: Caboclos podem ser  subdivididos em De Pena e De Couro e representam, respectivamente, índios ou homens do campo; Pretos-Velhos, os negros escravos; Crianças, seres em tenra idades, ou mesmo, adolescentes, e por ai seguem as representatividades: Malandros, Marinheiros, Mineiros, Baianos, etc...
Como se vê há uma infinidade de representatividades e seriam necessárias dezenas de Entidades para referendar a todas. Vamos falar de Exu, já que ele manifesta-se tanto numa como noutra religião, ainda que sob definições essencialmente diferentes. Exu no Candomblé, como já vimos, é Divindade. Na Umbanda, porém, é Entidade e representa diversas personalidades e para isso ganha uma parte feminina, a Pomba Gira. São reis, rainhas, mestres, feiticeiros, damas da sociedade, senhores da cultura, enfim, uma gama tão grande que seria impossível definirmos todas. Essa visão de Exu, ainda que concebida do Exu Orixá, recebe de muitos uma conotação bastante negativa, ou seja, Exu acaba sendo considerado por estes a parte negativa da Umbanda e entendem ser ele (erradamente, diga-se de passagem) que castiga, faz mal, traz vingança.
Os Exus da Umbanda são reconhecidos por nomes dos mais variados: Marabô, Tiriri, Mirim, Miséria, Morcego, Capa Preta, etc.. Um dos mais conhecidos, porém, é Seu Tranca Ruas das Almas.
Algumas histórias de Tranca Ruas das Almas diz que ele foi médico, mas esta é mais uma visão pessoal ou específica oriunda de uma manifestação exclusiva. Muitos médiuns manifestam Entidades com a mesma identidade e seguramente não serão os mesmos personagens. Temos ainda Exu Veludo, Gargalhada, Toquinho, Marabô, Do Lodo, etc... As diversas Pombas Giras também têm várias denominações. Maria Padilha, Mulambo, Navalha, Pomba Gira Cigana, Maria Quitéria, etc...
De forma geral podemos perceber que Exu tem duas características bem distintas. A original africana, um Orixá, ou seja, uma Divindade e outra completamente diferente, a da Umbanda, quando se apresenta sob a forma de um espírito desencarnado. No entanto, nas duas versões tem uma mesma função de mensageiro, (guardada as devidas proporções) não um simples "leva e trás", ou mesmo, um empregado do homem, mas aquele que sem ser cultuado inicialmente nada acontecerá a contento. Exu pode ser considerado o chicote do mundo e por isso acaba sendo culpado pelo mal que o homem carrega na própria alma, o qual lhe é permitido muitas vezes praticar para que possa cumprir seu livre-arbítrio. Mas da mesma forma que lhe fora dado ser-lhe-á cobrado.
Acessado em 05/02/2009 no síto do SRZD. Todas as modificações posteriores são de responsabilidade do autor original da matéria.
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