Disciplina - Ensino Religioso

Ensino Religioso

08/11/2012

Berço dos deuses

Marcio Antonio Campos | Gazeta do Povo

Cidade do México
Sítio arqueológico de Teotihuacan, a 40 km da Cidade do México

Se hoje ficamos impressionados ao contemplar o que sobrou das civilizações pré-colombianas, é difícil imaginar o que os próprios astecas sentiram quando encontraram a monumental Teotihuacán, algumas dezenas de quilômetros a nordeste de sua capital, Tenochtitlan, atual Cidade do México. O local já estava abandonado havia séculos e, para os astecas, Teotihuacán era bem mais que um mero complexo de edifícios gigantescos deixados por um antigo império: era um local místico, talvez o mais importante deles: ali, acreditavam, havia surgido o Quinto Sol, que governava a era em que viviam.

foto das escadarias do temploNinguém sabe como os moradores de Teotihuacán chamavam sua cidade – o nome do sítio arqueológico foi dado pelos astecas, e significa “lugar onde nasceram os deuses”. Fundada por volta do ano 100 a.C., o conjunto chegou a ser a maior cidade das Américas e uma das maiores da Antiguidade, com estimados 125 mil habitantes em seu auge, no século 5.º d.C. Até que, entre os séculos 8.º e 9.º, a população abandonou a área. Há diversas hipóteses para esse colapso, como fome provocada por uma seca, ataques externos, revoltas internas ou uma combinação desses fatores. Hoje, as ruínas da cidade antiga são domi­nadas por turistas, que escalam pirâmides para conhecer mais sobre a arquitetura e o misticismo dos povos antigos. Daquilo que os teotihuacanos deixaram para trás com a decadência da cidade, muita coisa sobreviveu até a época atual. O passeio pelo sítio arqueológico começa pela Pirâmide da Serpente Emplumada, a única que os visitantes não podem subir. Com relevos dos deuses Quetzalcoatl (a “serpente emplumada”) e Tlaloc (deus da chuva), a construção domina a área da Cidadela, onde morava a elite da cidade. A partir dali, só existe um caminho: seguir Avenida dos Mortos acima. A pouco mais de um quilômetro da Cidadela está a Pirâmide do Sol, construída entre os anos 1 e 150 d.C. O maior edifício de Teotihuacán, com 63,5 metros de altura, pode ser escalado até o topo, com áreas de descanso entre séries de degraus – a subida parece ser a atividade preferida de todo visitante do sítio arqueológico. Perto da pirâmide existe um museu, em um prédio moderno, com artefatos que ajudam a reconstituir o que se sabe sobre o cotidiano dos teotihuacanos.
Entre locais sagrados, é possível visitar o Templo de Quetzalcoatl, a serpente emplumada

A segunda metade da Avenida dos Mortos é dominada pelas construções em forma de talud-tablero (estilo arquitetônico que combina plataformas superpostas com painéis na diagonal, às vezes com escadarias), que vão margeando a rua e motivaram seu nome: os astecas julgavam, erroneamente, que havia pessoas enterradas sob as estruturas – hoje sabe-se que as construções eram usadas como templos. No fim da avenida está a Pirâmide da Lua, que pode ser escalada até uma plataforma de onde se tem uma vista privilegiada da Avenida dos Mortos, da Pirâmide do Sol e da Praça da Lua.

foto das ruínas do México
Visual das ruínas da Cidadela, a moradia dos nobres

A oeste da Pirâmide da Lua está um labirinto de salas que forma três palácios: o de Quetzalpapalotl (“mariposa emplumada”), o dos Jaguares e o do Caracol Emplumado. O complexo guarda uma série de murais que conservaram um pouco de sua cor original e relevos em pedra, que também já foram coloridos no passado. Jaguares, aves, caracóis e outros seres mitológicos habitam as paredes, revelando pistas sobre a riqueza artística de uma civilização que serviu de inspiração para muitos outros povos no México.

Foto das escadarias da pirâmide
Turistas na atividade mais comum do lugar: subir escadarias nas laterais das pirâmides

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Confira outros locais na capital do país onde é possível conhecer o México pré-colombiano.

Templo Mayor

No coração da cidade, as ruínas do maior edifício da capital asteca foram descobertas em 1978, durante obras da companhia elétrica. Hoje sobraram as bases dos sucessivos templos que os monarcas astecas costumavam construir sobre a edificação anterior. O segundo estágio, erguido entre 1325 e 1427, está mais inteiro, com um chac-mool (um tipo de estátua ritual) e a pedra onde se realizavam sacrifícios humanos. Um museu abriga a pedra circular de Coyolxauhqui e mostra como era o dia a dia em Tenochtitlan.

Museu Nacional de Antropologia

Dentro do Bosque de Chapultepec, vale um dia inteiro de visitação. Sem esse tempo disponível, melhor ignorar o andar de cima e priorizar as salas dos maias, toltecas e astecas para conhecer a história dos principais povos que habitaram o México antes da chegada dos espanhóis. A sala asteca inclui a famosa Pedra do Sol, também chamada de “calendário asteca” – apesar de a teoria mais aceita hoje indicar seu uso na posição horizontal, como base para lutas rituais, e não para acompanhar a passagem do tempo. Do lado de fora do museu, os Voadores repetem um ritual para atrair chuvas.

Xochimilco

O bairro em si é desanimador, mas a visita se justifica pelo passeio de trajinera, um barco multicolorido que percorre os canais que um dia cortavam toda a capital asteca e só foram preservados no sul da Cidade do México, tendo sido declarados Patrimônio da Humanidade em 1987. É possível conhecer o sistema de chinampas, ilhas artificiais que os astecas usavam para ampliar o espaço para a agricultura. Passear de trajinera aos sábados é um programa tradicional das famílias mexicanas, retratado no filme Frida.
Esta notícia foi publicada no site Gazeta do Povo em 08 de Novembro de 2011. Todas as informações nela contidas são de responsabilidade do autor.
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