Disciplina - Ensino Religioso

Ensino Religioso

30/09/2013

O que é Religião?

Por: Alexandre Cumino

Uma das formas de definir religião é ir direto ao significado da palavra, do latim, religare, que tem o sentido de religar-se a DEUS. Mas, o que pode parecer simples é, no entanto, complexo, afinal há formas muito variadas de religião e até algumas, como o budismo e Jainismo, em que nada se refere a DEUS, são praticamente religiões ateístas.

No séc. XIX, Augusto Comte torna-se o precursor do Positivismo, declarando que religião seria substituída pela ciência, pois no futuro esta teria as respostas para as inquietações humanas buscadas no mundo teológico-religioso. E, assim como os períodos mitológicos e mágicos já haviam sido superados pelo religioso, este também seria ultrapassado, declarando sua inutilidade.

Religião, tal qual se conhece, seria uma pseudo-solução para pseudo-problemas. Nos passos de Comte, viriam Nietzsche, declarando a morte de Deus, Freud, considerando religião uma ilusão, algo infantil, e Marx, que afirmaria ser o suspiro dos oprimidos, ópio do povo. Cientistas promoveram uma nova inquisição, na qual só tem valor o que pode ser observado, experimentado e mensurado dentro do método científico. Em meio a tanto ceticismo, Jung oferece um contraponto às ideias de Freud, demonstrando a importância das questões religiosas na vida do ser, apresentando o erro da aplicação do método científico para negar o valor que possui a religião na vida e na psique humana:

“O conflito surgido entre ciência e religião no fundo não passa de um mal-entendido entre as duas. O materialismo científico introduziu apenas uma nova hipótese, e isto constitui um pecado intelectual. Ele deu um nome novo ao princípio supremo da realidade, pensando, com isto, haver criado algo de novo e destruído algo de antigo.

Designar o princípio do ser como Deus, matéria, energia, ou o quer que seja, nada cria de novo. Troca-se apenas de símbolo.” – Jung. Psicologia e Religião Oriental. Petrópolis: Ed. Vozes, 1991. 5a. edição. P.03.

Religião faz parte de uma realidade subjetiva do ser, o que não pode ser mensurado, já que as ciências naturais se ocupam da realidade objetiva. O método científico fornece respostas de como as coisas funcionam na realidade física. Os diversos métodos religiosos, junto de suas doutrinas e filosofias, se ocupam em responder porque as coisas são como são. A Física pode responder como o mundo surgiu, a Religião se ocupa em entender porque ele surgiu. A ciência pode estudar a origem das espécies e da vida material, a religião quer estudar a origem do espírito, a origem da alma, a origem divina e sagrada.

As questões da ciência são materiais, as questões religiosas são existenciais, filosóficas, doutrinárias, ritualísticas, humanas, divinas e sagradas. Apenas as Ciências Humanas podem estudar a religião do lado de fora da mesma como um produto humano. Assim, surgem várias considerações das diversas ciências humanas sobre o que vem a ser religião. Cada Ciência humana é uma forma diferente de olhar o mesmo objeto (religião), por meio de diferentes dimensões e perspectivas. Vejamos por exemplo o que diz Émile Durkheim, o pai da Sociologia, em sua obra clássica, As Formas Elementares de Vida Religiosa, sobre o que vem a ser religião:

“Não há, pois, no fundo, religiões que sejam falsas. Todas são verdadeiras à sua maneira: todas respondem, ainda que de maneiras diferentes, a determinadas condições da vida humana. Uma noção que geralmente é considerada como característica de tudo aquilo que é religioso é a de sobrenatural. Com esse termo entende-se toda ordem de coisas que vai além do alcance no nosso entendimento; o sobrenatural é o mundo do mistério, do incognoscível, do incompreensível. Todas as crenças religiosas conhecidas, sejam elas simples ou complexas, apresentam um mesmo caráter comum: supõem uma classificação das coisas pelas palavras “profano” e “sagrado”. Eis como o Budismo é uma religião: na falta de deuses, admite a existência de coisas sagradas, a saber, das quatro verdades santas e das práticas que delas derivam”.

Definir o que vem a ser religião não é tarefa fácil; resumir em poucas palavras
pode nos levar a um reducionismo de seu valor, estender-se na explicação pode tornar vago o conceito. Geralmente, quando um religioso define o que é religião ele já traz em sua mente um modelo que exclui os outros modelos de religião, diferentes da sua, e este é um dos problemas em definir e entender o que é religião. As pessoas costumam acreditar que sabem o que é “religião” baseadas apenas em sua experiência pessoal. Por isso, o estudo do quem vem a ser religião num sentido amplo não é simples e nem deve ser orientado por um leigo ou religioso que desconheça a universalidade deste tema, que não pode ser estudado de forma parcial e limitada.

Os místicos, que tiveram um contato íntimo com o sagrado, costumam ter definições mais abrangentes e menos dogmáticas sobre o que vem a ser religião. Para eles, religião é o fruto de uma experiência vivida e não apenas um conjunto de regras, doutrinas, dogmas ou ritual. Vejamos a definição do mestre e místico Hindu Vivekananda:

“A religião não consiste em doutrinas e dogmas. Ela não é o que você lê nem os dogmas que você acredita serem importantes, mas o que você percebe… A finalidade de todas as religiões é a percepção de Deus na alma. Essa é a única religião universal.”

Para concluir, podemos dizer que no centro ou na origem de toda religião está a experiência religiosa que é passada de geração em geração por meio de uma tradição que surge. Nem sempre os discípulos, fiéis e adeptos vivem esta experiência religiosa, no entanto, a reproduzem por meio de rituais e doutrinas que dão o sentido de ser para suas religiões. Desta forma, “Religião” pode ser compreendida como o meio pelo qual o homem manifesta a sua fé de forma ritualizada.
Esta notícia foi publicada no site umbandaeucurto.com em 27 de Setembro de 2013. Todas as informações nela contidas são de responsabilidade do autor.
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