Disciplina - Ensino Religioso

Ensino Religioso

08/10/2013

Nepal recorre a líderes religiosos para impedir casamento infantil

Por: Agencia EFE

Ativistas defensores dos direitos das crianças pediram ajuda a líderes de diversas religiões no Nepal para impedir os casamentos infantis, prática bastante disseminada no país.

Em um recente discurso em uma conferência organizada por agências da ONU para debater essa questão, representantes do clero nepalês disseram que a prática é arraigada no país devido às necessidades da sociedade, ao analfabetismo, à superstição e à pobreza. Desta forma, os líderes evitaram vincular o casamento de crianças com alguma das religiões praticadas no Nepal.

"Os Vedas (escrituras milenárias hindus) guardam silêncio sobre os casamentos infantis mas dizem que as pessoas deveriam se casar após estarem capacitadas", afirmou Ram Chandra Bhandari, um guru do hinduísmo, religião de três quartos da população nepalesa.

"Aconselham se casar após se transformar em 'acharya' (título concedido para quem possui certo conhecimento religioso), algo que é possível depois dos 24 ou 25 anos", acrescentou Bhandari.

Opinião similar foi expressada pelo líder muçulmano (religião de 5% da população do país) Nazrul Hussain, para quem "segundo o islã os objetivos do casamento só podem ser conseguidos como adultos".

Hussain explicou que o islã afirma que as pessoas devem se casar quando tem "uma conduta pura", para que "homens e mulheres se complementem um aos outros para a procriação".

Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), no Nepal 11% da população menor de 14 anos já está casada e 29% das meninas entre 15 e 19 anos têm marido. No entanto, a incidência do casamento infantil, mais frequente no sul do Nepal, na fronteira com a Índia, está em queda.

Aos 16 anos, Babita Paswan, natural do distrito de Rautahat, não teve escolha.

Sua mãe a obrigou a casar há alguns meses diante dos "problemas econômicos" gerados pela morte do pai da menina em um acidente.

"Minha irmã mais velha e meu cunhado não queriam que eu me casasse mas minha mãe me perguntou como iria conseguir comer", explicou Babita à Agência Efe.

A jovem é consciente de que não deveria ter se casado, acredita que cometeu um erro, mas se resigna e pelo menos se consola pelo fato de sua irmã menor não precisar se casar até ser maior de idade, conforme a mãe de ambas prometeu.

Para o líder hindu Bhandari, os pais casam prematuramente suas filhas, geralmente uniões arranjadas, empurrados sobretudo pelo temor de não poder encontrar um bom marido para elas quando se tornarem mais velhas.

Bhandari disse que o casamento infantil começou depois que regimes islâmicos atacaram o Nepal nos séculos XII e XIII.

O clérigo hindu acrescentou que os muçulmanos levaram muitas meninas jovens do país mas deixaram as mulheres casadas.

Hussain, por sua parte, defendeu que os fiéis do profeta Maomé adotaram a prática no Nepal influenciados pela tradição hindu.

No Nepal, a idade legal para o casamento para homens e mulheres é de 20 anos, mas 23% das mulheres têm filhos antes de completarem 18 e 48% antes de chegar aos vinte ou com esta idade, segundo a Unicef.

"Os líderes religiosos são as pessoas mais poderosas em nível de comunidade no país, conhecem a linguagem do coração", disse à Efe a representante do Unicef no Nepal, Hanaa Singer.

Tilak Poudel, um jovem de 15 anos do distrito de Surkhet, disse que os líderes religiosos podem ajudar a reduzir a incidência do casamento entre crianças pois o povo os escutam.

De fato, após uma campanha lançada em seu distrito, três aldeias deixaram de realizar casamentos infantis.

Hanaa Singer não se preocupa tanto com o casamento em si, mas sim com a gravidez precoce, pois adolescente de menos de 15 anos têm 15 vezes mais chances de morrer no parto do que mulheres de vinte anos.

A ativista citou um estudo do Centro Internacional de Pesquisa de Mulheres segundo o qual na década que vem 100 milhões de menores se casarão antes dos 18 anos no mundo, a maioria na África Subsaariana, Índia, Bangladesh, Paquistão e Nepal.

Para solucionar a questão, Bhandari disse que ao invés de só analisar o motivo da existência destes casamentos é preciso "pensar em como impedi-los".


Esta notícia foi publicada no site Terra em 04 de Outubro de 2013. Todas as informações nela contidas são de responsabilidade do autor.
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