Disciplina - Ensino Religioso

Ensino Religioso

16/06/2008

Matemático questiona religiões

O matemático americano John Allen Paulos entrou na recente onda de livros ateus com Irreligion (Irreligião), lançado neste ano. Leve, bem-humorado e breve, seu livro é devotado à lógica: analisa argumentos tradicionais sobre a existência de Deus e mostra onde fazem água. Professor da Universidade Temple, na Filadélfia, Paulos deu a seguinte entrevista a VEJA, publicada na edição desta semana da revista.
Veja – O que um matemático pode dizer sobre o ateísmo?
Paulos – Examino os argumentos tradicionais em favor da existência de Deus, e não as conseqüências sociais da religião. Eu me abstenho de fazer comentários sarcásticos sobre a religião das pessoas. Busco, isso sim, demonstrar os furos lógicos nesses argumentos. Como matemático, estou acostumado a trabalhar com provas lógicas – a partir de determinadas premissas, derivamos certas conseqüências. A lógica tem de ser rigorosa. Os argumentos teológicos não seguem esse rigor. Eles pulam de A para B, mas há um grande abismo entre os dois termos.
Veja – Em geral, as pessoas não estão preocupadas com questões lógicas quando buscam uma religião. Elas procuram um certo sentido superior. Como o senhor responderia a essa necessidade?
Paulos – Não há resposta para isso. Se alguém diz "eu acredito porque decidi acreditar", não há muito que fazer. Você só pode apontar que não existem provas ou argumentos que sustentem essa crença. O fato, porém, é que as pessoas que acreditam quase sempre, em algum momento, recorrem a algum dos argumentos a favor da existência de Deus que eu critico no livro. Em geral, invocam a beleza da natureza como prova da existência de Deus. Outras apontam supostos milagres e coincidências e dizem que essas coisas não podem acontecer por acaso. E, nesse ponto, devemos apontar suas falhas lógicas.
Veja – É improvável que as pessoas deixem de acreditar, mesmo depois que seus argumentos são derrubados.
Paulos
– Sim, claro. Não tenho problemas com isso. É uma questão de escolha individual. Ninguém pode impingir a crença ou a descrença a outra pessoa. Mas há um certo perigo nessa atitude. Se alguém diz: "Isso é tão importante para mim que você não pode questionar, não pode perguntar sobre as minhas razões", a crença se torna uma força bruta. Que, em algum momento, colide com outra força brutal. Nos Estados Unidos de hoje, com a ascensão da direita religiosa, tem havido essa afirmação da centralidade da fé. E, em geral, não se admite que ela seja discutida. Dizem que a religião está além da argumentação.
Acessado em 16/06/2008 no sítio Vejaonline. Link não encontrado no dia 29/12/2009. Todas as modificações posteriores são de responsabilidade do autor original da matéria.
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